Infelizmente não veio a lembrança de algo escrever em homenagem ao nosso grande irmão Francisco Cândido Xavier exatamente no dia em que estaria completando 100 anos de existência, ou seja, no dia 02 deste mês. Contudo, nunca é tarde para escrever, qualquer coisa que seja, o mais simples que seja, para lembrar as pessoas de que na espiritualidade temos um ser tão maravilhoso como ele, que em vida, dedicou todo seu tempo ao bem da humanidade. Chico, um menino nascido em Pedro Leopoldo, interior de Minas Gerais, passou por grandes dificuldades, como a perda da mãe e os maltratos da madrinha, histórias já tão conhecidas por nós. Mas Chico passou por outra grande dificuldade, e esta perdurou por muito tempo, e ainda, infelizmente, existe entre nós: a incompreensão de sua mediunidade. Desde criança, Chico passou pelo crivo do julgo alheio, e por que não, do próprio julgo, pois o certo é que nem ele nem os seus próximos entendiam o fenômeno que lhe permitia ver e ouvir os mortos. Mas sua reação para com seu próprio dom não foi tão hostil quanto a dos que lhe cercavam, pois até mesmo seu próprio pai havia pensado em lhe colocar em um sanatório; e o padre da cidade lhe passava penitências como modo de curar aquela "doença infeliz": "a doença de falar com os espíritos". Outro padre disse que o rapaz tinha o diabo no corpo, e mal visto por muitos, encobertos pelo véu negro da ignorância - pois a ignorância é o não conhecer - Chico sofria. Mas eis que a claridade chega, e à luz da doutrina espírita, apresentada a Chico quando este sofria com a doença de uma irmã, o menino atormentado consegue perceber que tudo aquilo que lhe sucedia era dádiva da espiritualidade, algo que lhe foi permitido para que pudesse difundir a doutrina do amor e da paz, podendo ajudar a amenizar dores do coração e do corpo. A partir dessa apresentação de Chico ao Espiritismo, ele, que ainda era católico, deixa de o ser, pois dali em diante ele não seria mais um rapaz atormentado, não mais carregaria a culpa de ver espíritos, ele havia encontrado o seu lugar. Mas Chico não parou de sofrer, pois estava ainda sob a mira da crítica nacional, especialmente quando do lançamento de seu Parnaso de Além-Túmulo, uma obra psicografada por ele, mas genuinamente escrita por poetas mortos, como Castro Alves, Casimiro de Abreu, Algusto dos Anjos, Auta de Souza e outros muitos que resolveram dar à humanidade mais um pouco de seu lirismo, agora postumamente. Mas como pode? Seria uma usurpação aquilo? Como um semi-analfabeto poderia escrever tantos poemas em estilos tão diferentes e tão originais daqueles que ele dizia terem escrito? Pela logica espírita, aí nada tem de anormal, mas para os que não entendem nem querem entender, tudo aquilo era uma grande farsa, e era preciso desmacarar aquele homem que ousava usar os nomes dos poetas, e ousava dizer existirem espíritos. Muitos correram à cidade de Chico para saber seu segredo, mas lá só encontraram muita bondade, muita paz vinda daquele homem que falava manso e tratava a todos como verdadeiros irmãos. Chico sabia que ia sofrer perseguições do tipo, mas seu mentor espiritual, Emmanuel, estava sempre com ele para lhe garantir a segurança de que não havia nada de errado: era preciso entender aqueles que não o entendiam. Nessa atitude está a grandeza da espiritualidade, a caridade, pois quando entendemos o outro, estamos sendo caridosos com ele e conosco mesmos. A caridade não está em apenas doar o material, mas o amor, que muitas vezes não conseguimos fazer, simplesmente porque estamos encharcados da miséria humana, a miséria de ver apenas a nós mesmos. E Chico conseguiu, mesmo que sob o olhar atravessado dos críticos, mesmo que com os insultos todos que lhe acorriam, ser um homem íntegro naquilo que lhe foi confiado: doar amor, doar a mensagem de paz que Jesus há muito havia tentado distribuir. Através da História, conseguimos perceber que muitos mensageiros vieram para trazer a mensagem do alto, mas eles foram todos hostilizados; temos o próprio Cristo, Estêvão, Paulo de Tarso, Francisco de Assis, Martim Lutero, Mahatma Ghandi e o próprio Chico. Sim, todos estes trouxeram uma mensagem de paz, mas todos, sem excessão, sofreram as pesadas críticas daqueles que se acham detentores da verdade pura. E onde está a verdade pura? Quem criou céus e terras? Onde estão nossos entes queridos? Será que todos eles foram apenas um corpo que se acabou? Não, tudo na vida tem sentido, nada acontece por acaso, e nós não somos apenas corpo fadado a se decompor. Somos seres eternamente vivos, que vêm, que vão, na tentativa de sempre se melhorar. E Chico veio para se melhorar e nos ajudar a nos melhorar. Foi instrumento da espiritualidade para que se espalhassem obras de esperança, para que, mesmo após seu desencarne, pudéssemos recorrer às mensagens do além e pudéssemos entender um pouco de nossa complexidade humana. Por fim, quero dizer que na mídia circulam muitas versões sobre Chico e seu dom, quando dizem que sua capacidade de se comunicar com os desencarnados era um "mistério sem respostas", e digo, e todos os espíritas cardecistas dizem: não há mistério nas coisas de Deus, não há mistério para a espiritualidade, nós apenas não conseguimos enxergar que somos fruto de um plano bem maior, bem mais perfeito do que nossa mente imagina. E para terminar, a mensagem que Kardec nos legou: "fora da caridade não há salvação". Portanto, amemo-nos uns aos outros, e tentemos, o mínimo que seja, seguir o exemplo de Chico Xavier, embasado em Jesus Cristo, de sempre amar nosso próximo e doar o melhor de nós.
